Hoje eu trago a indicação de uma das séries mais fantásticas que pude acompanhar nos últimos tempos: The Americans.
A série se passa no contexto da guerra fria, ao longo do mandato do presidente republicano Ronald Reagan, no período de maior acirramento dos conflitos entre Estados Unidos e União Soviética. Nesse cenário, CIA e KGB lutam de forma voraz, cruel e silenciosa para garantir a soberania de suas nações, usando de todos os artifícios possíveis que uma guerra pode possibilitar, incluindo práticas de espionagem e missões secretas em ambos países. E é assim que conhecemos Philip e Elizabeth, dois agentes soviéticos, que foram enviados à solo americano para viverem uma vida dupla e que precisam todos os dias lutar para não levantar qualquer suspeita sobre sua origem, lidando com questões subjetivas das suas vidas, enquanto realizam diversas missões ordenadas pela União Soviética.
O cenário acima descrito por si só já seria um palco para muitas discussões. Mas para deixar ainda mais interessante, Philip e Elizabeth são casados, e tem 2 filhos, ambos nascidos nos EUA e que nem desconfiam da vida dupla de seus pais, ou mesmo da sua origem soviética. Isso é o foco central da série e os espectadores são convidados a entrar dentro do universo decadente do comunismo nos moldes da União Soviética, se chocando diretamente com os valores de uma sociedade constituída sob os princípios da hipocrisia e alienação. Em meio a tantos conflitos, vivenciamos uma verdadeira epopeia entre dois grande impérios, diante de um dos melhores enredos dramáticos para se pensar as revoluções do século passado, frente as emergências de nosso próprio tempo.
Não importa se você possuí uma posição política bem definida, com certeza essa série te fará pensar sobre ela. Apesar de o próprio autor defender que sua intenção não era discutir questões políticas, mas sim os dilemas próprios de um casamento, é impossível ignorar os conflitos que eles vivenciam e não confronta-los com os valores em jogo ao longo do enredo. Quando um outro casal surge na trama, Sandra e Stan (agente do FBI), é possível fazer uma comparação entre os dois moldes de sociedade. Entre Sandra e Stan, representantes da cultura burguesa, notamos um relacionamento decadente e de fachada, sem o menor laço de cumplicidade e sentido na existência. Com Phillip e Elizabeth observamos um relacionamento construído de forma puramente racional e utilitária, no melhor estilo soviético, chocante e absurdo para um olhar à primeira vista, mas que aos poucos adquiriu um caráter de companheirismo capaz de mover qualquer obstáculo no mundo. E é nesse momento, que todas as críticas à união soviética tomam a forma de uma beleza ímpar, representada pelo verdadeiro amor que faz total sentido à luz das ideias revolucionárias.
E não fica por aí. Outros personagens são trabalhados de forma extremamente rica e complexa. Destaque para Nina, uma personagem que também é agente da KGB e que nos surpreende diversas vezes ao longo da trama, ora traindo a causa, ora disposta a morrer em nome da "honra revolucionária", representando muito bem as contradições da União Soviética. Outro destaque para Oleg Burov, um apadrinhado político dotado de um sarcasmo perfeito para por em cheque qualquer ideologia política.
Não poderia deixar de dar um destaque especial a atriz Keri Russell que representa uma das melhores personagens femininas de todos os tempos. Uma atuação maravilhosa e de tirar o fôlego! A sua personagem (elizabeth/nadezhda) é tão complexa e profunda, que chega a dar nó na mente. A sua determinação e convicção no papel que ela representa na construção de um novo mundo desperta tanto admiração como raiva, em momentos que isso beira a cegueira e estupidez. Ao tempo que ela consegue ser extremamente sensível e sensata fazendo o que julga necessário para manter viva a chama de tudo que ela vivenciou e que a tornou revolucionária.
E por fim, não poderia deixar de dizer que os filhos do casal representam os melhores momentos da série. Em uma infância meio alienada reproduzindo um discurso patriótico de uma nação inimiga de seu povo, à um amadurecimento lento e surpreendente que levam seus país a tomar uma decisão que qualquer pai, independente do contexto, um dia terá que tomar. Ainda mediante as reflexões mais previsíveis que a maternidade/paternidade pode suscitar.
"será que meu filho deve ter o peso das escolhas que fiz para mim? será que gostaria que ele seguisse esse caminho? será que há alguma coisa que eu possa fazer para impedi-lo de reproduzir os meus próprios fracassos?"
Para mim, essa produção inspira a reflexão que entre o passado e o futuro há um enorme abismo, cujo nós estamos sempre imersos, onde toda humanidade tem que se deparar com suas contradições, na perfeita dialética da vida. Não dá para fugirmos de responder as perguntas mais básicas, sobre quem fomos e o que queremos ser. Mas ainda sim, nosso maior conflito, sempre será sobre o que somos agora, os valores de tantas gerações que não conseguimos ainda enterrar, mediante a tantas ideias que ansiamos em abraçar.
menina, você escreve de forma muito bonita.
ResponderExcluirNão gosto anda de política, mas achei o contexto bem reflexivo. Fiquei com vontade de assistir também. Tem na neflix certo?
tem sim! ♥ E aposto, que mesmo não gostando de política, tem grandes chances de curtir a série. Porque ela não é bem sobre isso, mas sim sobre dilemas, valores, relacionamentos e essas coisas que fazem parte da vida e das reflexões que fazemos sobre ela :) ♥
ResponderExcluirobrigada por comentar!
Antes de mais nada, gostaria de informar que TERMINEI THE FALL (ou pelo menos assisti todos os episódios que estão no netflix). E diante das atuais circunstâncias, posso dizer que estou pronta pra começar essa :D
ResponderExcluirNossa deu vontade de assistir a série, só pela capa me chamou a atenção ai eu li o texto e pensei preciso ver kkk. Amo séries assim, que te faz refletir e questionar.
ResponderExcluira uniao soviética era muito ruim que bom que acabou
ResponderExcluiradoro quando você fala de séries, acho completo a forma como você aborda!
ResponderExcluirEu já vi the americans e acho que concordo em quase tudo que você pontuou, realmente é uma série sobre pessoas e relacionamentos, mas não dá para deixar o fundo político de trás, afinal a série gira em torno disso.
E nossa, preciso dizer que foi uma série que me chocou muito. Como eles consegue fazer aquelas coisas?
então cê terminou sim, porque até onde eu sei, só tem aqueles episódios. Agora migs, eu não terminei de ver, acredita? hahaha meio que parei naquela "2 temporada" e fiquei meio desanimada.
ResponderExcluirpor favor assista the americans pra gente debater MUITO isso :)
eu tbm! :D adoro dramas, é meu gênero favorito, porque acho que faz a gente pensar nossa vida, valores e talz...
ResponderExcluirtenho concordância com partes dessa afirmação, realmente ela foi protagonista de coisas horríveis, e fracassou em muitos pontos.
ResponderExcluirMas há coisas positivas e meio que a série retrata um pouco disso, para quem puder olhar mais atentamente :)
Nossa, nem me fala! Eu fiquei master chocada. A cada episódio eu xingava muito e me revoltava! risos.
ResponderExcluirSimplesmente não sei. Mas o que mais me assusta é saber que pessoas realmente faziam aquelas coisas e viviam daquela forma. E apesar de ter pontuado sobre a beleza do casamento deles, eu ainda acho que era uma vida horrível de viver.