Sempre tive muitos atritos com minha mãe. Ela sagitariana com ascendente em aquário, eu canceriana com lua em touro, não é de se espantar que a vida toda sempre vi nela uma pessoa muito diferente do que eu era/ou queria ser. Ela aventureira, desprendida e sempre muito altruísta, queria levar a gente para cada aventura, desbravar uma floresta, ficar horas jogando bola... Botava todo mundo pra trabalhar "não tem essa de ser homem não, aqui todo mundo faz as coisas". "eu não dependo de homem nenhum, se quiser eu vou lá e faço!", e outras pérolas inesquecíveis que permearam a minha criação. Nunca nos esquecemos da vez que estávamos sentado na mesa e ela perguntou: "qual é aquela ideia que todo mundo deve ter direito as coisas de forma igual?", e a gente respondeu em tom de graça: "o comunismo mãe?" (...) " é isso mesmo! Então é isso que eu acredito!". A gente riu, mas com aquele tom de seriedade.
Minha mãe é assim. Uma pessoa que não pensa muito, mas faz. Sua preocupação sempre foi a liberdade e honestidade, ela jamais deixar de dizer o que ela pensa, custe o que custar, doa a quem doer, tenha a consequência que tiver. E eu, que sempre fui adepta de uma polidez britânica, sempre me choquei com esse jeito honesto demais dela. Além do que, com ascendente em aquário, tinha o combustível perfeito para alavancar todo seu lado de fogo aventureiro. Tipo, eu cansada querendo tomar um sorvete, e ela querendo escalar uma montanha (!!!!). mãe? Não! Sempre treta.
Uma mãe super diferentona. É assim que a definimos. Para mim sempre foi difícil aceitar porque sou de uma essência muito conservadora e sempre fui do tipo "tradição e família", que sentia muita falta de ter uma mãe que "enchesse a casa com flores" e me "chamasse pra um chá". Que me levasse na escola, e me desse um beijo desejando uma boa aula, como "a maioria das mães dos meus colegas". Mas ela nunca foi assim, e durante muito tempo eu cultivei uma mágoa boba, fundada na ideia de que ela não era a mãe que eu gostaria de ter.
Até o dia que eu o percebi o quanto me tornei uma pessoa melhor na convivência dela. O quanto eu teria sido individualista e quadrada se não tivesse sido criada e influenciada pelas suas ideias. O quanto eu seria medrosa, se não fosse a coragem que ela sempre me inspirou. Uma vez, quando estava em um momento muito difícil com um grupo de amigos, quase nenhum pai/mãe apareceu para dar apoio, mas é claro que a minha mãe estava lá. Porque ela é do tipo defensora, e se achar que foi cometida uma injustiça, ela realmente não tem medo de questionar quem quer que seja. Até hoje lembram dela como "a mãe + firmeza!", risos. E ela é mesmo. Uma mãe que sempre esteve lá quando eu mais precisei.
Nunca me esqueço do momento em que estava em uma situação muito perigosa. Era um conflito e todo mundo ao meu redor estava fugindo, mas eu não estava com medo. Eu queria ajudar as pessoas. Porque lembrava dela, e de como ela já enfrentou situações muito difíceis com uma honestidade intelectual e um espírito altruísta de dar inveja. E naquele dia, quando me perguntaram como conseguia não sentir medo, eu tive orgulho de dizer que é porque minha mãe sempre me ensinou a ter coragem.
Essas coisas forma me dando à clareza que eu precisava para ver o valor da minha mãe que eu nunca enxerguei porque estava esperando que ela fosse outra pessoa. E quando eu pude finalmente ver, senti vergonha de qualquer dia a ter rejeitado. Porque ela foi e sempre vai ser aquele oposto que me complementa. Aquele fogo que faz eu pegar no gatilho, aquela treta que faz eu amadurecer 1000 anos em um dia. Um maravilhoso privilégio.
Eu apesar de ter tomado todas as minhas decisões de vida diferente do que ela teria tomado, hoje eu vejo em mim tantos traços dela que nem consigo mais dissociar sua influência de minha vida. São tantas lembranças, tantos aprendizados, tantos erros cometidos e amadurecidos. A oportunidade de ter crescido com essa referência de mulher forte foi o maior presente que a vida me deu. Para eu aprender a ser forte também, a minha maneira. E hoje eu procuro sempre honrar todo o esforço dedicado na minha criação, tentando cultivar no mundo um pouco do espírito dela, tendo a coragem de ser quem eu sou, independente do que o mundo espera.
E eu sei que é a única coisa que realmente, ela deseja para mim.
Eu li esse post da Thais, e fiquei muito inspirada a fazer o mesmo. é um exercício delicioso que com certeza faz a gente enxergar como nossas mães são mais determinantes em nossas vidas do que a gente as vezes sequer possa imaginar.
que lindo Jess :)
ResponderExcluireu achei de uma sensibilidade impar.
♥
ResponderExcluirCaiu um cisco aqui no meu olho. Peraí.
ResponderExcluirMe identifiquei com o texto só que ao contrário. Sou sagitariana e sempre quis ser livre, aventureira, sem dar satisfações da minha vida e minha mãe agia (e age) de forma conservadora, rebuscada, seguindo padrões de mãe. Senti-me sufocada por muito tempo e hoje digo que estamos em paz.
Ela respeita meu espaço, meu modo de viver e eu respeito o dela. Mas a diferença é que ela me inspira muito mais.
Perceber o quanto nossas mães lutaram para nos transmitir bons valores nos enche de orgulho e vontade de quem sabe um dia, ter um tiquinho de amor, força e integridade que elas têm.
Lindo post, Jess! Lindas palavras.
Beijo ♥