Desde que eu cometi aquele erro capilar que me deixou loira dourada, eu venho tendo profunda reflexões sobre questões capilares, em verdadeiros dilemas shakespearianos acerca do tipo de cabelo que quero para mim. Isso se agrava por eu estar em um ano de verdadeiro inferno astral, onde tudo que eu quero é desapegar e simplificar, dois termos que parecem não casar nem um pouco com a ideia de manter um cabelo colorido artificialmente. Ao tempo que eu sinto que descobri a cor da minha psique, que faz eu me sentir bonita sem precisar de nada além. E é por aqui, querido leitor que começa a grande questão desse post. Uma reflexão cabelística para todos aqueles que se colocam em xeque como eu, entre o que somos e o que queremos ser.
Eu sou o tipo de pessoa que aprecia por demais as coisas naturais. Eu acredito que os processos orgânicos são muito ricos e que as vezes o ser-humano vem para bagunçar e complicar tudo, causando muitas vezes mais problemas que soluções. Por isso que eu busco nesse valor parâmetros para a minha vida, busco simplicidade e na maior parte do tempo, quero as coisas mais naturais possíveis e me sinto cada vez melhor com isso. Porém o meu cabelo sempre fugiu um pouco a essa regra, pois ele sempre foi quase como uma extensão do meu estilo, então há de se imaginar que já passou por muitas mudanças provocadas por processos químicos. Já foi cacheado, já teve progressiva, já foi preto, roxo, loiro, ruivo, curto, longo, desfiado, reto... Confesso que hoje eu prefiro não fazer mudanças estruturais no fio, porque gosto de ter essa maleabilidade de deixar cacheado ou liso sempre que eu quiser, porém a questão da cor estava em voga recentemente, à luz desse novo posicionamento de vida que tenho buscado.
Desde que eu descobri o cabelo loiro-médio acinzentado percebi que dificilmente encontraria outra cor que eu gostasse tanto de ver em mim quanto essa. De forma totalmente acidental, cheguei nesse tom para corrigir um erro e me vi olhando no espelho e me sentindo tão bem comigo mesma, tão leve e serena, que nada mais era necessário para me sentir linda. Não sei se você já sentiu isso, mas comigo foi algo cósmico, tanto que esse ano até voltei a ser morena, mas não consegui ficar por muito tempo, corri logo para a perfumaria, comprei todos os produtos e descolori tudo novamente. O que ocorre, caro leitor, é que para manter um cabelo loiro, sendo morena e cacheada, é necessário descolorir o cabelo, coisa que quando já se tem um cabelo que naturalmente tende ao seco, significa duplo cuidado, muita dedicação e muito dinheiro. Ambas coisas que eu definitivamente não tenho sobrando. E esse é o momento que todo mundo me questiona porque raios eu não abandono essa ideia e deixo o meu cabelo ser o que ele realmente é, e mesmo que pareça meio contraditório à primeira vista, eu só consigo responder de forma simples que é porque esse é exatamente o cabelo que eu quero ter.
Independente de que para manter isso, eu precisa me dedicar e investir um pouco mais nisso.
Sabe, as vezes eu até penso em voltar a ser morena, reduzir os custos de tratamento, manter meu cabelo mais saudável (porque natural, é sim, mais saudável), mas não hoje. Por enquanto, esse tom loiro é tão condizente com o momento que estou vivendo, ele faz eu me sentir mais leve, porque a cor clara suaviza as nuances da minha pele, deixando o meu rosto mais iluminado, os cachos com um aspecto mais definido e isso me deixa feliz. Me deixa tão satisfeita comigo mesma, que eu tenho usado bem menos maquiagem, e vejam só que contradição, tem me ajudado até a me vestir de forma mais simples também, porque eu acho que essa cor super combina com esse estilo mais minimalista que eu tenho adotado, roupas chapadas, estampas sóbrias, muito preto e cinza... pelo menos eu me sinto extremamente bem com essa combinação.
E eu estou compartilhando isso hoje com vocês porque acho que é uma reflexão importante. Encerro defendendo que acredito que quando se trata de aparência é necessário sempre que haja uma escolha e que ela seja consciente. Vivemos em tempos de muitas vozes autoritárias, daqueles que dizem que devemos ter o cabelo assado ou cozido, que devemos investir ou não, tempo e dinheiro em futilidades, e quando a gente menos percebe, anulamos nosso poder de escolha. Nos guiamos pelo que a vizinha fez, peço que a youtuber famosinha faz, pelo que é tendência, ou o que é politicamente correto, mas não pelo que realmente queremos. E é nesse momentos que a gente acaba fazendo burrada, estragando nosso cabelo e nos desgastando com isso. Claro que eu não anulo, de forma alguma que existem alguns padrões de beleza dominantes, que devem ser olhados ainda mais com cautela, assim como acho maravilhoso esse movimento em defesa dos cabelos naturais. Porém ainda sim, devemos ser nossos próprios guias, porque nada, nem mesmo o movimento mais revolucionário e maravilhoso do mundo deve ser aderido de forma leviana, por motivos que não sejam tão verdadeiros quanto a própria causa.
E é isso. Aguardo ansiosamente que vocês utilizem os comentários para deixar os pensamentos que vocês tem acerca dessa questão. Eu vou amar ler e compartilhar ainda mais opiniões sobre esse assunto tão emergente e importante!
sou super a favor de assumir o cabelo da forma que ele é, deixando de lado a obrigação de transforma-lo em outra coisa. Mas, claro, se isso deixar a pessoa feliz. No fim das contas o importante é vc estar bem com o resultado, e se vc quer o cabelo loiro, vai deixar o cabelo loiro e ponto. Acho que hoje existe uma regra implícita surgindo que obriga as pessoas a serem do jeito que elas são naturalmente.. isso é ótimo, desde que considere também que algumas pessoas curtem mudar, e também não tem problema nenhum nisso. Talvez a única regra que eu leve em conta na hora de como eu sou/estou é a regra de não ter regra. Com licença, o cabelo/corpo é meu e faço como bem quiser \o/ bjs
ResponderExcluirMiga, a primeira coisa que pensei quando comecei a ler teu texto foi essa dualidade de tu curtir tanto esse conceito do natural, e optar por um cabelo que foge disso. Mas acho que a gente não deve ser tão "caxias" e levar tão ao pé da letra esses conceitos, porque de repente, pra ti seja mais natural querer se sentir bem do que "honrar" com essa palavra e aplicá-la a tudo na tua vida.
ResponderExcluirEu sou fã das modificações corporais, e pra mim é muito natural ter uma parte do cabelo colorido, vários piercings (rumando ao próximo) e uma tatuagem. É natural porque me representa, porque tudo isso fala comigo e por mim, é uma extensão do meu conceito interior de quem sou eu, do que quero ser.
E a foto desse post ficou tão maravilhosa, tão confiante, tão empoderada. Sua maravilhosa!
É bem o que você disse Jess, a gente tem que se sentir bem com o cabelo que nós mesmos escolhemos, sendo ele natural, alisado, enrolado, tingido, raspado.
ResponderExcluirEu também mudei bastante meu cabelo, tanto na cor como no corte, a única coisa que eu nunca fiz foi mudar permanentemente a estrutura dele pois nunca senti vontade. Hoje em dia eu me sinto melhor com meu cabelo natural, mas na época em que eu era ruiva eu me sentia melhor ruiva, e por aí vai.
É muito legal que essa cor de cabelo te trouxe mais simplicidade na vida, acho que se te faz bem vale sim o esforço e o investimento. Eu achei que combinou mesmo com você! De verdade :)
O Jess, também andei passando por reflexões cabelísitcas.Eu sempre adorei mudar a cor dos cabelos e recentemente ele passou de loiro com luzes, para vermelho com uma mecha rosa, e agora castanho com as pontas descoloridas...Também estava buscando algo mais prático para deixar que os cabelos seguissem seu curso, já que estou cheia de cabelos brancos.Escureci um pouco para ficar menos gritante para aceitar os fios brancos...Mas aí pensei, perai pq mesmo meus cabelos tem que ficar brancos, já que amo tingir os cabelos? Esta sou eu...rs...ai chegue a seguinte conclusão: vai continuar dando trabalho mas vamos brincar um pouco mais, tingir novamente, mudar a cor , ser quem eu realmente gosto e depois eu penso se deixo os cabelos brancos aparecerem mesmo.
ResponderExcluir1 bj.
Amei o post.
JoCoeli
Achei maravilhosa suas colocações porque não partem de nenhum preconceito e isso é raro.
ResponderExcluirComo você falou vivemos numa fase de polifonia de conceitos capilares, enquanto uns defendem procedimentos de "adestramento" dos fios, outros (eu inclusa) defendem um cabelo mais natural. Fico feliz quando vejo pessoas refletindo sobre esses movimentos que de alguma forma visam a satisfação pessoal e a emancipação feminina de padrões estéticos.
As vezes me pego pensando como pude aderir a procedimentos químicos e insistir neles por tantos anos (10 anos, no mínimo). Hoje, não consigo me ver diferente se não assim crespa/cacheada, pouco me importa se um dia tenho grandes definições ou não. Sei que não sou apenas um cabelo e sei que também ele não é um mero adorno da minha face.
Enfim poderia ficar o domingo inteiro falando sobre o assunto mas irei reservar esse assunto para outra oportunidade. Espero que você tenha uma relação feliz com seu cabelo e que ele te ajude nesse processo de empoderamento.
Beijos e vai desculpando o comentário longo.
Achei incrível esse post! Se você está se sentindo bem e feliz, é tudo o que importa. Eu já tive mil fases com meu cabelo, preto, liso, curto, ruivo e sei lá mais o que. E sempre me sentia insatisfeita. Depois dos meus 17 anos decidi nunca mais mudar o que é para ser natural no meu corpo, e isso incluía meu cabelo. Nunca mais fiz química, escova ou chapinha. Hoje ele é natural, cacheado e meio liso quando quer, bonito e saudável. E o melhor? Me sinto extremamente contente com ele. É isso que é bom, nos sentirmos bem.
ResponderExcluirParabéns pela reflexão!
beijo
Eu também tinjo o cabelo. Acho que esse é o único processo químico de beleza constante, pelo menos uma vez ao mês. Eu já considerei deixar os cabelos ao natural, mas também considerei que não era a imagem que eu desejava. A gente se identifica com as roupas, os cabelos, os gestos e é importante gerar uma reflexão sobre a maneira como levamos nossa imagem pessoal. Penso que ainda não me descobri tão profundamente, mas estou caminhando para algo que realmente reflita o que eu quero e sinto, ou apenas torne as coisas mais práticas.
ResponderExcluirOlha Jess, sou muito a favor do natural por experiencia própria. Porém também não sou aquela "ai você tem que ser natural" (leia com voz de fresquinha). Até por que, é como eu mencionei lá no blog por esses dias,o que eu acho valido mesmo é a pessoa se sentir bem com ela mesmo, se olhar no espelho e se sentir especial estando natural, liso, ruivo, amarelo e etc.
ResponderExcluirConcordo com você que as vezes nos deixamos nos levar pelas coisas que o vizinho e etc dizem. Mas também existem muitas pessoas bem "sem noção" por ai que chegam a passar até mesmo amaciante porque alguém contou que era bom. Sinceramente, não é tudo que eu vejo que saio atacando no meu cabelo "não" até por nós sabemos o trabalho que é ter o "nosso cabelo" independente do tipo dele, o que acho que existe são pessoas desesperadas pela perfeição e é isso que as cegam.
Beijinhos, post muito amor esse ♥.
é verdade Jhe! Eu tbm acho que quanto natural melhor (até porque dá menos trabalho), mas as vezes precisamos fugir dessa regra para mudar uma coisa ou outra, seja por diversão, ou pura vontade.
ResponderExcluirExato. Ter um padrão pode ser opressivo,seja ele o natural, seja ele o não natural. Acho que temos que debater muito tudo isso, desconstruir padrões dominantes e paradigmas, mas o respeito a escolha do próximo deve prevalecer.
ResponderExcluirexato miga! eu nunca fui adepta do naturalismo, embora seja simpatizante.
ResponderExcluirtambém curto mudanças, embora seja sempre cagona para faze-las! auiheuihauihe
acho que é bem por aí :) As vezes o que somos pelo dna não necessariamente é o que nos identificamos, afinal, há tantos caminhos e encontros que mudam nossa forma de ver o mundo, que acho até normal querermos mudar nosso estilo, cabelo, roupas...
ResponderExcluircom certeza é um dos pontos que importam. Nos sentirmos bem, e estarmos saudáveis.
ResponderExcluirobrigada! :)
ResponderExcluirsão tantos dilemas né? A real é que pintar dá trabalho sim, mas se a gente fizer certinho nem dá tanto. Eu acabo tendo mais porque teimo em fazer em casa ( o que frequentemente dá errado).
ResponderExcluireu acho todo esse movimento muito importante. é de extrema necessidade que o outro lado da moeda, que raramente é representado ganhe força e se destaque como um outro modelo de beleza possível. Alias nós cacheadas nunca estivemos tão empoderadas. Acho isso muito bom, porque me alegra ver pessoas fazendo escolhas mais conscientes e quebrando paradigmas. Mas como tudo, é preciso ter um certo cuidado com extremos. Ir contra qualquer química em qualquer caso não é quebrar preconceitos mas criar um outro, de que devemos ser sempre naturais e que fugir disso seria incorrer em alienação. Quando nem sempre é verdade. Tem gente que gosta de ter o cabelo liso, assim como tem gente que gosta de cacheado. O que acredito que devemos garantir é que ambos possam fazer essa escolha sem sentir pressionados pela mídia, sociedade, ou mesmo movimentos (por mais legais que eles sejam). Pelo menos vejo assim ;)
ResponderExcluirobs: eu estou adorando essa sua nova fase. seu cabelo é lindo <3
[…] cuidei muito dele em 2016. Postei algumas reflexões sobre ele aqui. mas estou fechando o ano com o cabelo escuro e curto, um pouco diferente do que eu queria. O […]
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